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  Quando aquele moço cantou
Mister Eco - 2004-07-09 - Diário Carioca

"- Sob o foco de luz azul, o moço está sentado ao piano. Pendem-lhe os óculos sobre o nariz aquilino e a cabeça se cobre de luar, de prata, da brancura iluminada das coisas singelas. O moço tem mãos esguias e dedos longos. As suas mãos fervem nervosas e agitadas, reinvindicadoras, como se a pedir, a exigir, que teclado, cordas e sons extravasem a música que tem na alma. Os seus olhos brilham atrás das lentes. O seu corpo se curva, o piano estremece. Mar indomável batendo nas grutas e nas lapas. Avalancha. Tropel de revolta e de vitória. Vamos, eu quero a minha música!

A sala é silêncio de sagrada reverência. O piano responde. O moço sorri. Ela vem vindo. A sua música, o seu milagre, a sua eterna mocidade. Bela e sonhadora, alegre e faceira. Tem requebros, feitiços e tem lirismo. Trejeita e se faz de sílfide. O moço canta. A sala inteira canta. Comoventemente. Lágrimas vêm ver o encontro do moço com a sua bem amada. O espetáculo, a beleza da vida. Ele vibra. Todos vibram. Não pode viver sem ela. O coro ressoa: sem ela, sem ela, sem ela...

E olhe que aquele moço já tem pra mais de cinqüenta, esse menino!

Ah! Sujeito danado esse Ary! Sempre surpreendendo, sempre respondendo aos inconformados com a sua fama e a sua glória, com as páginas belíssimas. Com a sua voz de "peixe", o Ary cantou "Ornamento do Crioléu" e "Sem ela". E foi ai precisamente que todo mundo cantou com o Ary. E gente chorou.