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Aquarela de Ary - 2003-11-12 - Estadão
Meu personagem, hoje, não é jogador mas é uma criatura do futebol, esporte que foi uma de suas muitas e desvairadas paixões. Falo de Ary Barroso, cujo centenário de nascimento está sendo celebrado este mês. O Flamengo não tem, até hoje, torcedor mais ilustre que Ary Barroso. Por amor do Flamengo, na irradiação da final de 1944, Fla e Vasco, Ary largou o microfone e foi chorar, à beira do campo, os minutos finais da conquista do tricampeonato carioca.
A MPB, tal como o futebol, tem em Ary Barroso um devoto incomparável, na qualidade e na quantidade de uma obra musical que ganharia o mundo, quando o Brasil ainda era, apenas, o paÃs do futebol e do café.
Como repórter, passei a vida toda andando pelo mundo afora. Não me lembro de um lugar onde não tenha ouvido uma canção de Ary Barroso, que eu ouvia, morrendo de saudades e de orgulho também.
No dia da final da Copa de 98, em Paris, tomei um metrô. O vagão à frente do meu estava lotado de torcedores franceses, carregando bandeiras e cantando a Marselhesa. O vagão de trás, cheio de brasileiros. Pensei: quando os franceses pararem de cantar a Marselhesa, os brasileiros vão dar o troco, cantando o nosso hino nacional.
Foi o que aconteceu. Só, amigos, que em vez do "Ouviram do Ipiranga", o que se ouviu foi a Aquarela do Brasil, cantada com fervor e, sobretudo, alegria.
Os próprios franceses aplaudiram.
A música de Ary Barroso, toda ela, exprime integralmente, a gente brasileira, em corpo e alma. É sortida de sentimentos, como o povo do Brasil-lindo e trigueiro. Pavarotti já disse que, se dependesse dele, o Hino da Itália seria o Il sole mio. Se dependesse de mim e de muito mulato inzoneiro, o nosso hino nacional seria a Aquarela do Brasil.
Louvemos, pois, a memória de Ary Barroso, gênio da raça. |
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