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  Eu nem quero ver
Carlos Heitor Cony - 2003-02-07 - Folha de São Paulo

Ary Barroso foi, a seu tempo, não apenas o maior compositor mas também o maior locutor esportivo do rádio brasileiro. Criou ou ajudou a criar o mito do Flamengo, do torcedor apaixonado, intolerante, radical.
E misturava tudo na pessoa física e na pessoa jurídica. Quando transmitia um jogo do Flamengo e o time ia mal das pernas, limitava-se a uma transmissão lacônica, amargurada. Digamos um Fla x Flu.
Ele se entusiasmava quando o Flamengo atacava: "Zizinho passa a Pirilo, Pirilo recua para Biguá, Biguá estende para Zizinho, lá vai ele, entrando... o juiz dá impedimento. Agora é a vez deles. Olha aí, eu não disse? Didi dribla Biguá, passa a Carlyle, que vai entrando... Orlando se coloca... pronto! Nem quero mais ver!"
Ary fazia silêncio. Silêncio no estádio. Meio minuto depois, os gritos da torcida do Fluminense. Ary puxava sua gaitinha, soprava uma, duas notas -"Eu não disse?". O ouvinte ficava sem saber como tinha sido o gol, quem o fizera (quando o gol era do Flamengo, ele tocava uma sinfonia inteira na gaitinha).
Lembro essa história que, embora fantástica, é verdadeira. E tenho vontade de imitar Ary Barroso, não diante de um jogo de futebol, mas da sucessão presidencial.
Embora não torça por nenhum dos lados, estou achando o jogo feio e fraco. Ainda bem que ninguém depende de mim para saber como vão as coisas. Mas, volta e meia, nos jornais, nas revistas e na TV, sobretudo, fico sabendo que Ciro passa para Brizola, Brizola evita Garotinho e estica para Itamar. Itamar vai passar para Serra, mas Lula intercepta... O jogo está chato e é comprido. Só teremos o placar final daqui a oito meses -mesmo com a prorrogação do segundo turno.
Pode ser que, nos minutos finais, eu me entusiasme um pouco. Por ora, estou que nem o Ary: nem quero ver.