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  De Ary | Sobre Ary

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  No "Gaveau" da Pensão Miramar
Hernani de Irajá - 0000-00-00

Eu conheci o Ary em 1923, quando veio de sua cidade interessado em estudar Direito, mas ele tinha dificuldades, pois não possuía dinheiro, e assim foi residir num quarto pequenino, de duas vagas, na Pensão Miramar aonde minha familiia estava passando uns tempos, pois viemos do Rio Grande do Sul. Nossos conhecidos, Regina Maura, Maestro Roberti e Genival Londres também fizeram parte deste convívio familiar. Eu era primeiro-tenente médico do Forte de Copacabana e nas horas de lazer fazia criticas para cinco jornais.

De Ary não quero reavivar aquela figura envelhecida, um tanto neurótica e atribulada dos seus últimos anos, a imagem melodramática que se apresentava nos receptores de televisão em programas variados. Não! Para mim, para a minha saudade, guardo na retentiva sentimental a silhueta ágil, esgalga e alegre de um quase adolescente recém-chegado ao Rio de Janeiro, mineiro filho de Ubá. E será esse Ary de vinte anos, pródigo em trocadilhos, de anedotário fértil e variado, a improvisar valsas, choros e sambas no Gaveau da "Pensão Miramar", o companheiro de todos os dias do Catete, do Flamengo das nossas rodas dos cafés da Lapa e da Avenida Rio Branco. Ainda quando dedilhava o piano nas orquestras de cinemas ou ao criar os programas de calouros por cima do Cinema Império, Ary ainda conservava a personalidade de irradiante simpatia e comunicabilidade.

Depois... Depois veio a fase do futebol, do Flamengo, da edilidade para onde foi guindado pela mão amiga e bondosa de Luiz Aranha, e, aos poucos, foi-se diluindo o inspirado compositor de "Quindins de Yá-yá", "Tabuleiro da Baiana", "Três Lágrimas", "Dá Nela"... para reerguer-se de modo brilhante ao produzir, já em 1938, a Inspirada "Aquarela do Brasil". Sua última produção foi incontestavelmente "Risque!". O "meu" Ary Barroso não foi o do gongo de Makalé, não seria aquele vereador defendendo a construção do Maracanã, nem o comentarista e narrador de partidas de futebol ao lado de José Maria Scassa ou de Ruy Viotti - para mim tenho-o como aquele mineiro um tanto tímido, brincalhão, chistoso, da Pensão Miramar, verdadeiro paraíso de môças e rapazes alegres, de vida intensa e de esperanças infinitas.