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Vou escrever o Livro Negro do Futebol Brasileiro Ary Barroso - 0000-00-00
- "Vou escrever o "Livro Negro do Futebol Brasileiro".
Entrei para as fileiras rubro-negras em 1926, levado pelas mãos de José de Almeida Netto, o famoso zagueiro "Telefone". Integrei-me, desde então, à vida social, polÃtica e desportiva do clube. Depois de 33 anos de dedicação incondicional ao Flamengo, orgulho-me de seu passado, dos homens que construÃram seus alicerces de grandeza, dos atletas que elevaram seu cartel de triunfos e de tantos e tantos abnegados que, ornados da virtude imarcescÃvel da modéstia, sustentavam o prestÃgio do clube e o projetaram, como um gigante, no coração e no amor das multidões.
Conheço esses homens e esses atletas desde a sede da Praia do Flamengo, desde o campo do Paissandu, passando pela Gávea, cuja pedra fundamental assisti ao ser lançada, pelo "Rio Branco", até os dias de hoje. Sempre senti o clube coeso, unido, como um bloco de granito, seguindo a sua rota inexorável. Havia dissenssões polÃticas passageiras, mas não se esgrimia o ódio pessoal. Era um conforto freqüentar-se a sede do grêmio nos seus dias de festas ou de reuniões administrativas. Cada um, dentro de suas possibilidades, dava um pouco de si ao clube, sem transformar a sua dedicação em lábaro sectário de propaganda individual. O que se fazia pelo clube, o que se ofertava ao clube, diluÃa-se na sua vida, incorporava-se ao seu corpo e quem fazia ou dava retomava ao afã de servir, dentro do sistema fratemo de igualdade aos demais, de humildade natural, dentro da ordem natural de bem servir por dever de servir.
Hoje tudo está completamente modificado. O egoÃsmo cindiu o clube em grupos. A vaidade abriu penhascos entre os homens. A ignorância afastou do clube as suas tradicionais vigas de sustentação. Não há amor, há vingança. Não há fraternidade; há ódios.
InÃcio do Livro Negro do Futebol Brasileiro |
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