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O homem-cão Ary Barroso - 0000-00-00
Existe, sim senhores. O rio está cheio deles. "Homem-cão": homem que morde. Não figura em nenhuma escala antropológica e, até hoje, pois, escapou à argúcia dos nossos mais acreditados zoologistas. É uma variante do terrÃvel "homo hominis lúpus". Não tem pelos grossos, mas, cabelos normais e a boca é comum, com dentes de tamanho natural. Freqüentam, em geral, escritórios comerciais, consultórios médicos, a Galeria Cruzeiro, boates, bares e, à s vezes, as próprias residências da vÃtima. Outro dia, estava com um grupo de amigos, numa confeitaria, quando me disseram: "Lá vem o T. Vem morder na certa!". Esperei que o "animal" se aproximasse. Não fazia nenhum gesto especial. Tinha a boca cerrada, e não armava nenhum bote. Aproximou-se. Falou ou grunhiu? Falou. Falou com um companheiro. Este, meteu a mão no bolso. Julguei que fosse arrancar o revolver. Não! Tirou uma notinha de vinte e "sacrificou-a". O "homem-cão" esboçou um sorriso humano. Meu companheiro tinha sido mordido todo. Em geral, esse bicho morde e cai fora. Há espécimes que permanecem. São os piores. Cada um tem sua técnica especial. Quando querem morder, uns ficam mentirosos; outros humildes e lacrimejantes; outros, megalômanos (citam quantias imensas a receber dentro de dias), e assim por diante. De minha parte, considero-os empolgantes e lamento não poder fazer sobre eles um estudo mais detalhado.
- "Por que?" - perguntou-me um amigo.
- "Os que tentei estudar, me levaram alto!"
Dedicada ao diretor do Fluminense com quem se aborreceu em 1929 |
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