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Ary Barroso - 0000-00-00

Está chovendo sempre. Desde anteontem. Água que vem de Deus para dar vida às nossas torneiras. Depois o sol, secando tudo. Poeira por todos os lados. Poeira que vem de Deus, para dar de ganhar às lavanderias. A vida é assim mesmo. Não faz mal. O que faz mal é o teu sumiço. O teu silêncio. Escreve, homem! Ao menos uma palavra. Como vais? Que é feito de ti? Tens estado sempre por ai? Que tal o Aluízio? E as "Ligas Camponesas" do "Dr." Julião? E a renúncia do Jânio? E a falsa democracia do Jango? Desde que entramos no signo dos "Jotas" perdemos a tranqüilidade. A tranqüilidade e o tempo. Tempo e dinheiro. Me explica esse negócio. Deves saber coisas que não sei. Deves ter explicações (vide Jango) que não tenho. O diabo do homem fala "nossa patra". 1961 esteve péssimo pra mim. Desde junho (olha o jota) ando às voltas com uma hepatite a virus. Cama. Repouso. Comidinhas de criança. Muito doce em calda. E tome injeção. Virei peneira: todo furadinho. Bebida? Nunca mais! Passo as boras lendo e assistindo televisão. Água mineral e olhe lá. De vez em quando vou ao piano. E toco. Fico recordando velhas melodias, minhas e dos outros, de modo a espancar de meus ouvidos essas criações exóticas a que denominaram "bossa nova", que de bossa não tem nada, e, de nova, muito menos. Os meninos estão com tudo. O povo de baixo não liga a mínima importância a essa gente; o de cima, ah, o de cima, por puro esnobismo, canta e dança, esganiça e se contorce, achando tudo ótimo. Êta Brasil engraçado!