Capa  
Vida
Fotos  
Desenhos  
Coisas de Ary  
Novidades  
Textos  
Livros  
Música  
   
Busca
 
 
 
   
  De Ary | Sobre Ary

Muito bem! Deste uma prova de valor,... (s/ título)
Ary Barroso

Boysinho:... (s/ título)
Ary Barroso

Meu benzinho... (s/ título)
Ary Barroso

Yvonne.... (S/ título)
Ary Barroso

Envio-te agora este cachorrinho.... (s/ título)
Ary Barroso

Esta carta é um juramento!... (s/ título)
Ary Barroso

Bravos!... (s/ título)
Ary Barroso

Carta a noiva Yvonne
Ary Barroso

 
 
anteriores início próximos
  Esta carta é um juramento!... (s/ título)
Ary Barroso - 1929-10-03

Esta carta é um juramento! Juramento fatal e irrevogável que faço perante Deus e minha consciência, como solução para um caso que é grave, gravíssimo, e que há muitos anos venho remoendo única e exclusivamente por você, por nosso amor!

Quando eu pus os meus olhos em você, uma transformação rápida e radical passou pelo meu pensamento: fiquei seriamente enamorado de você. Era então, eu, um rapazola inexperiente que ignorava completamente que a vida é uma eterna expiação... Você, por esse tempo, era uma garôta meiga e insinuante, sedutora no deslumbramento modesto de sua ingenuidade. Gostei logo, e muito, de você. Passaram-se anos e o nosso amor tomou um caráter tal que hoje torna-se impossível removê-lo. Somos já dois corpos e uma só alma, um só coração, um só cérebro. Agora mesmo tenho à minha frente o seu retrato. Você está sorrindo para mim encantadoramente. Acaba de bater 12 horas da noite.

[…] Vou contar o que houve:

- O Major deu mais urn daqueles seus característicos estrilos comigo, por uma coisa de nenhuma importância. E no meio dessa cólera inofensiva disse-me que eu não devia continuar lá em casa. Não respondi, porque, você sabe, prezo demais o respeito aos pais e aos superiores. Com este atrito o pote transbordou! Transbordou e entornou! Estou cansado de aturar desaforos. Deixei a André Cavalcanti para sempre! Preste bem atenção: "Para sempre!.." […]

[…] Em resumo: todos morreram para mim. Morreram de fato. E como prova do que estou afirmando vou lhe avisar do seguinte:

- De hoje em diante, tu ficarás sabendo que de S. João del Rei só sairás para minha companhia! Se queres a minha fidelidade, o meu amor eterno; se queres a mim para teu marido; se queres o teu Ary Barroso, fica sabendo que hás de seguir à risca o que te vou dizer, com toda a segurança, com a convicção de um homem que está cansado de ser humilhado e espicaçado: pergunta a D. Aurélia qual o preço da sua estada aí por mês. Eu pagarei tudo, nem que tenha de fazer os maiores sacrifícios. Aliás, sacrifício não é para mim trabalhar pelo meu amor, por ti. Ficarás aí até quando eu achar conveniente. Quando eu te chamar é para nos casarmos. Fica sabendo mais que se entrares na tua casa, na André Cavalcanti, 50, lá ficarás, porque definitivamente não te irei buscar lá. Juro por tudo quanto há de mais sagrado: não te vou buscar lá.

Escrevo-te esta carta impelido por meus sentimentos de dignidade; dignidade esta que se eu não soube cultivar até hoje, de hoje em diante eu a defenderei até com arma na mão, se fôr necessário.

Eu não queria te dar noticias tão desagradáveis. Porém a nossa felicidade, que havemos de conseguir auxiliados por Deus e por meus esforços, está acima de qualquer reserva, de qualquer fingimento.

Responde-me para a Rua Riachuelo, 214, quarto 217.

Sem mais, não te deixes influenciar por maus pensamentos. Confia em mim que hei de te fazer feliz, porque creio EM DEUS E CREIO EM MIM."

Rio, 3 de outubro de 1929.

Carta a sua noiva Yvonne