Capa  
Vida
Fotos  
Desenhos  
Coisas de Ary  
Novidades  
Textos  
Livros  
Música  
   
Busca
 
 
 
   
  De Ary | Sobre Ary

E desapareceu no turbilhão da galeria
Carlos Heitor Cony

Guinga sobre Ary Barroso
Guinga

Coqueiro que dá coco. Um compositor genial que não acreditava nisso.
Pedro Bloch

Ary Barroso – Aquarela de um artista
Mauricio Macline

A. B.
Álvaro Armando

Roteiro de Ary
Fernando Lobo

Ary Barroso com os trabalhistas? - O popular locutor está entre a U.D.N. e o P.T.B.
Caspary

Rádio
Rachel de Queiroz

 
 
anteriores início próximos
  Coqueiro que dá coco. Um compositor genial que não acreditava nisso.
Pedro Bloch - 0000-00-00


Conheci Ari Barroso pelo avesso. E muita gente já esqueceu que fiz com ele várias músicas, inclusiva para a minha peça Soraia, Posto 2, que projetamos um musical baseado em Dona Xepa, que ele adorava. Muita gente já esqueceu ou não conheceu os famosos carnavais do Bulevar, com corso e tudo e o de Dona Zulmira, em que Lamartine e Ari disputavam em música a beleza de todas as raças.

Conhecia sua ternura envergonhada, que explodia em vez de chorar. Conhecia sua imensa modéstia, fantasiada em bronca permanente.

Há coisas memoráveis. Todos recordam o famoso programa de calouros e sua locução esportiva, com gaita e tudo.

Um dia estava ele berrando contra a imortalidade de certas letras. Explodiu, especialmente, com a frase: "Afogue a saudade no copo de um bar." Fez comício. De repente Ari cai em si: "Esperem aí. Mas esse troço é meu. É do Risque."

Era de Ubá, MG. Formou-se em direito, fez a trilha sonora de Você já foi à Bahia?, de Disney.

O ritmo brasileiro é o de Ari Barroso. É o ritmo aquarela. É o ritmo telecoteco, como ele gostava de rotular sua música.

Se houve no mundo indivíduo que duvidava do seu prório valor, era Ari. Não adiantava eu lhe explicar que tinha ouvido Aquarela no Circo de Moscou, que as caixinhas de música suíças tocavam suas músicas e que os garotos de Murano assobiavam suas melodias. Só vi o Ari feliz quando tirou o prêmio de melhor canção de amor. Eu estava no juri e votei nele, é claro. Cheguei mesmo a torcer desesperado na reta final. Ganhou. Convenci-me de que estava curado. Curado nada! O que se passava com Ari é que, com toda aquela sua pomposidade no falar, era modesto mesmo, dono de uma sensibilidade absurda e se defendia dela com uma sensibilidade que nunca me enganou. Ficava em pânico quando percebia que ia ficar comovido. Era e é grande mesmo. Mas, incrível como pareça, só ele não sabia disso e ficava comovidíssimo diante de Lúcio Rangel, "que é tão meu amigo que chora a minha saudade".

Naquela tarde, em Buenos Aires, no apogeu de As Mãos de Eurídice e de uma temporada inesquecível de Ari na capital portenha, íamos receber uma homenagem, com grande almoço, na embaixada do Brasil.

Depois de uma apresentação carinhosa do embaixador Orlando Leite Ribeiro, de citações generosas sobra a peça, Ernani Filho, o grande intérprete de Ari, começa a cantar várias das músicas mais expressivas de seu repertório. Ari Barroso, a certa altura, sopra-me:
- Eu acho que vou sair de fininho.
- Mas não pode Ari.
- Não posso por que?
- Você já esqueceu que a homenagem é pra você?
Ele cai em sí:
- É mesmo!

Em certos lugares da África, quando surge um desconhecido da tribo, não lhe perguntam quem é, mas "o que você dança"?

E pelos passos que realiza, o identificam imediatamente.
O ritmo brasileiro é o ritmo de Ari Barroso. Abrange o Brasil inteiro. É o ritmo aquarela. É o telecoteco.

A gaita de Ari ainda soa nos ouvidos de muita gente. Sua música invade, até hoje e para sempre, o mundo inteiro.
- Ouviu, Ari? O mundo inteiro! A homenagem é pra você.