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  Meu caro Geraldo:
Ary Barroso - 1955-04-00

Buenos Aires, abril de 1955

Meu caro Geraldo:

Um abraço forte de saudade. Escrevo-te, num domingo portenho de chuva e silêncio. Ruas vazias. Gente dentro de casa. E eu, sob a luz de um abajur solitário, dentro de meu quarto de hotel, conversando contigo, como se conversasse com todos os meus amigos de uma vez. Ainda resisto à vontade louca de rever o nosso Rio e, creio, resistirei por todo o mês de maio. Deves ter tido informações de nosso êxito retumbante por estas bandas. Foi acima de toda e qualquer expectativa. Conseguimos reintegrar a música brasileira no seu trono do qual, a alijaram o be-bop, o cha-cha e o mambo. Fomos considerados, por gregos e troianos, a nota de sensação deste princípio de ano platino. No Cine Gran Rex um triunfo! Nos clubes Atlanta, River, Independiente - uma loucura! A muchachada fica maluca com os reboleios da Sara Rios (uma revelação) e com a batucada da Vera Regina (negra sensacional). Essa negra é uma bomba! E o Eliseu do pandeiro conquistou inteiramente o público. Temos sido tratados com carinho e fidalguia.

Uma buate morta em Olivos (a 30 minutos do centro) chamada Sunset Club (uma belezoca), nós a ressuscitamos. Hoje é uma espécie de Sacha's: só vai quem pode e quem é bem de verdade. Fui feito sócio honorário da União dos Diretores de Orquestra e recebi um pergaminho espetacular de "melhor orquestra brasileira de todos os tempos" (para o gosto deles, naturalmente, muito gentis para conosco).

Sucessos impostos por mim em Buenos Aires: "Maria Escandalosa", "Risque", "Trapo de Gente", "Tem nêgo bêbo ai", "Recordar é viver", "Ocultei", etc. Estas músicas são assobiadas nas ruas! Foram todas gravadas com a orquestra, na fábrica "Music-Hall" e a saída de discos tem sido formidável. Contratos não tem faltado, inclusive para giros pela Europa (Paris, Itália). A orquestra, graças a Deus, tem-se mantido unida, sem casos, tudo muito feliz e contente. Nosso Embaixador, Orlando Leite Ribeiro, admirável! Ofereceu-nos uma feijoada e ainda nos honrou com um convite por ocasião de um baile que a Embaixada dedicou ao Corpo Diplomático.

Foi uma noite de gala e de vitória da nossa música. Tenho recebido da parte de Anibal Troilo, de Hector Lomuto as comovedoras demonstrações de afeto. A imprensa, sem restrição, tem sido muito generosa para comigo. Já tocamos em La Plata (Gymnasia y Esgrima), Rosário, Santa Fé, Resistência e Corrientes. Creio que iremos a Montevidéu. Depois, Porto Alegre e, finalmente, RIO! No Chile, onde nos esperam, o frio será de matar. Acho melhor Montevidéu. Voltarei em 56.

Assisti, outro dia, de Punta del Este, alguns jogos do Flamengo. Que beleza! Só não ganhamos o Fluminense, viu que urucubaca?! A vitória sobre o Peñarol comoveu-me bastante. O Flamengo continua aqui dentro.