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Vai haver barulho depois do camaval! Josaga - 1954-02-13 - Diário da Noite
- "Quem rouba meia dúzia de galinhas, deve ser punido como quem rouba o galinheiro todo, é claro!"
Essa onda de plágios que, de uns anos para cá, avassala, conturba e deturpa a maior festa musical do mundo, o camaval carioca, deve ter um paradeiro.
Não é admissÃvel que um falso compositor, impossibilitado de vir à tona com um sucesso de sua precária inspiração, deite olho grande nas músicas de outros e, sem a menor cerimônia, aponha sua assinatura numa composição que, de sua, só tem um tÃtulo mambembe e a máscara do vigarismo. Estas apreciações não dizem respeito aos nomes ventilados nesta reportagem, já que o papel do reporter é retratar sem tomar partido, mas cabem como decorrentes dos escandalos que, no perÃodo pré-momesco, estouram aqui e ali, tendo coma fundo a sempre vergonhosa questão do plágio.
Estavamos, outro dia, assistindo à audição semanal da "Orquestra de Ritmos Brasileiros", dirigida par Ary Barroso, quando o compositor começou a "descer a lenha" nos falsos compositores, terminando suas acusações com a frase que serve de subtÃtulo a esta reportagem.
E plágios, plágios e mais plágios
O reporter, percebendo que Ary, nas entrelinhas, defendia causa própria, mais do que depressa foi entrevistá-lo, terminado o programa. E Ary, com aquela sua franqueza já famosa no meio radiofônico, disse-nos o seguinte:
Que a música gravada este ana pelo cantor Risadinha, "Em cada coraçâo um pecado", e cuja autoria é atribuÃda a Francisco Netto, Rosemberg(?) e O. Silva, é copia fiel do samba "Eu sonhei", de sua lavra, e classificado em 3º lugar no Carnaval de 1945. E que, por isso, já havia contratado advogados e peritos para o competente processo, tendo estes últimos constatado o plagia e dado parecer favorável ao inÃcio da ação contra aqueles compositores.
E acrescentou o Ary: Francisco Netto, Rosemberg e O. Silva só tomarão conhecimento do processo depois do Carnaval, pois quero apanhá-los com "a mão na massa"...
E o leitor deve estar perguntando o porque daquela frase lá em cima, "Quem rouba meia cizizia... etc..." - Aqui está a explicação: Segundo o mesmo Ary Barroso, os falsos compositores, quando chamados à responsabilidade pelos plágios, alegam que suas músicas não são cópias de outras, mas que, "inegavelmente", tem alguns compassos desta ou daquela... Daà a pitoresca frase-argumento do compositor de "Aquarela do Brasil": "Quem rouba meia dúzia de galinhas (meia dúzia de compassos...), deve ser punido como quem rouba o galinheiro todo (a música toda...), é claro! |
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