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  Dois desabafos
José Lins do Rêgo - 1954-10-09 - O Globo

Um artista e um rico de muita caridade abriram-se em declarações públicas para registar decepções eleitorais. O artista, com o seu invulgar talento, confessou o seu fracasso político, dizendo que chegara finalmente a compreender que o seu público numeroso só o queria pela música. Para vereador, fora duas vezes derrotado, embora tivesse feito o possível para convencer ao eleitorado. Saíra com grupos que escutavam as suas músicas. Muitas palmas dos assistentes, grandes multidões a pedir bis. Tivera a certeza da vitória. Enganara-se. As multidões queriam a sua música, mas os votos seriam para outra. Por isto, o músico de tantos sucessos punha-se a queixar-se. Não o queriam para político.

Ora, amigo, você não tem a menor razão. Amá-lo como artista é mais alguma coisa do que deseja-lo para vereador. Se a arte lhe traz aplausos do seu imenso público, que lhe valem as sessões da Câmara Municipal? De fato, ser artista, e artista como você sabe ser, representa a maior grandeza deste nosso mundo. Vereador, poderão eleger milhares de eleitores. Agora, artista, só você mesmo é que é. Tudo o mais se vai numa outra eleição. As cadeiras mudam de donos, conforme as vagas de correligionários. A música que lhe sai da cabeça e do coração, você a obteve pelos dons de Deus. Raros dons que o Senhor não confere a muitos. Raros são os escolhidos para juntar notas e descobrir melodias que nos arrebatam e fazem sonhar. Amigo, você não tem a mínima razão. E até lhe digo: "Você foi homenageado pelas "fans" de suas composições. A derrota eleitoral evitou que você se arredasse do seu caminho. Poderá o amigo servir, com mais eficiência, ao nosso Brasil, com as suas composições do que com os discursos que fosse forjar para contentar as galerias. A arte é uma coisa, meu caro Ary Barroso, e a política é bem outra. Melhor ficar com o patrimônlo que lhe veia do berço a estragá-lo em atritos e competições partidárlas".