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O Ary Walter Mesquita - 1954-10-09 - Correio da Manhã - Notas e Comentários
O Maracanã em sua investidura polÃtica, reservou para muita gente um outro 16 de julho. Igual à quele, daquela tarde que até começou com sol, em 1950. Ainda assim, há os que continuam buscando, de junta em junta, os votos que não vieram, que por certo estarão confundidos naquelas pilhas de Lacerda, Lutero, Caiado, Gilberto e Hamilton... Esperança que para nós é grotesca.
A maioria, entretanto, já desertou do Maracanã. Entre esta maioria de candidatos anônimos, alguns que nos são gratos. Entre estes, por exemplo, o Ary.
Não houve revolta no desespero do Ary. Talvez, até, não tenha havido desespero. Mágoa, sim. O Ary custou a se convencer. Mas no segundo dia deixou de lado a ronda cansativa. Ficou num canto, triste, como é triste a tristeza do Ary! Perguntei como ia a votação. Antes de responder, encolheu os ombros, silencioso, numa resposta a si próprio:
- Fiz tudo que foi possÃvel. Trabalhei, esforcei-me, perdi dinheiro e muitas horas de sono. E concluiu, com tristeza:
- Qual, o povo não me quer. Não adianta.
Como se o povo pudesse deixar de querer o Ary. Talvez o esquecesse no auge de uma campanha polÃtica. Talvez se entusiasmasse com as falas de promessa. Mas as palavras, o povo esquece. Não esquecerá o canto do Ary, mesmo no Rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo, haverá sempre uma voz que o lembrará:
"Maria, o teu nome principia
Na palma da minha mão..."
Se eu soubesse da tristeza do Ary teria votado nele.
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