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Ary Barroso - 1956-01-10 - O Jornal - Scotch and Soda

Foi terrível o calor de domingo! O Rio pegava fogo e suava por todos os poros! O único recurso foram as praias. Coletivos, bondes, ônibus, carros particulares e de praça despejaram gente em penca por Copacabana e Arpoador, Ipanema e Leblon, Urca e Flamengo. Copacabana, então, ficou um formigueiro humano! Do alto, contemplando-se a praia, não se via areia, mas banhistas de todas as cores, de todos os tamanhos, movimentando-se pra lá e pra cá. Daqui a poucos anos, em manhãs iguais à de domingo, Copacabana estará impraticável. O povo terá de se espalhar pelas praias da Gávea, São Conrado, Barra da Tijuca, etc. Que diferença do meu tempo de rapaz! Leme era assim "a praia longínqua", com seus cajueiros e seus bares com "terrasse" e "duplos" espumejantes e gelados... "Viajava-se" até la de bonde.

Longa viagem que custava trezentos réis! Os "maillots", muito compridos, de côres escuras, se compunham de duas peças: blusas e calças, e, às vézes, de três, pois a touca era muito comum. Os homens usavam camisa cobrindo o peito e as costas e um calção que ia da barriga aos joelhos. Havia, no Leme, cabines especiais para a troca de indumentária, já que ninguém "ousava" transitar pela rua em traje de banho. Era muito comum um convite para um "pic-nie" nas areias do Leme. Copacabana não existia praticamente. Era um imenso deserto! Hoje… o Leme está completamente espetado de arranha-céus, rasgado de ônibus e lotações, sem cajueiros e sem "terrasses". Banalizou-se. Internacionalizou-se. Ficou praia como outra qualquer.

Quem se aventurará a fazer agora um "pic-nic" no Leme? Ninguém, porque ninguém está disposto a levar com uma bola pela proa, atirada pela "prancha 46" de algum desses inescrupulosos jogadores de futebol que exibem seu "virtuosismo pebolístico" sem medir conseqüências e sem respeitar a polícia. Antigamente banho de mar era até "receita médica"; hoje, qual receita, qual nada! Na maioria dos casos, o banho é simples pretexto para os colóquios amorosos da nossa juventude "estilizada". Não raro, damos de
cara com um rapaz quase fundido na moça de tão agarrados, aos beijos, aos apertões. E não respeitam famílias nem situações. Muitas vezes são meninas de 13, 14 ou 15 anos, no máximo, dando "shows" de amor com rapazes de 18, 19 ou 20 anos. Intérpretes jovens demais para essas tragédias que a chamada "educação moderna" nos oferece. Enfim... cada um dá o que tem e a vida continua! Com licença, amigos. São 11 da manhã. Vou à praia assistir ao espetáculo. Até amanhã, se Deus quiser!