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Ary Barroso - 1957-00-00 - Jornal dos Esportes

"- Parece que uma terrível onda de anarquia desceu sobre a vida nacional. Em todos os setores da atividade brasileira sente-se o seu terrível efeito. Desprestígio de autoridade. Gestos e atitudes de indisciplina. Os mais tradicionais princípios de ética e de respeito mútuo foram desprezados e em seu lugar impera a inquietação e o desassossego. Os de baixo cerram os dentes para os de cima e os que estão lá em cima parecem surdos às imprecações gerais. Não poderia ser diferente o ambiente que se respira, no momento, no mundo desportivo. As entidades superiores sentem tremer em suas mãos a espada da Lei e se acomodam nos arreglos políticos deixando correr o marfim. Os clubes não se entendem. Reconciliam-se hoje para voltarem a brigar em seguida. São Paulo diz uma coisa. Rio de Janeiro diz outra. Não se ouvem, nem por desfastio, as outras dezenas de federações espalhadas pelo Brasil afora. Em pleno fogo cruzado dos interesses em choque o presidente da CBD vai gozar as delícias de umas férias. Os quadros de profissionais saem do país não ligando a menor importância às disposições superiores que regulam a matéria. Enquanto isso, nosso futebol descamba vertiginosamente para a vulgaridade e o público já enfastiado e decepcionado começa a abandonar os estádios, proporcionando arrecadações muito aquém dos cálculos mais cépticos. As arrecadações do Maracanã não atingiram a 80% e as do Pacaembú muito pouco ultrapassaram da metade. Torneios que se realizam, começam financeiramente com desastres. O campeonato da cidade está longe ainda e os responsáveis pelos clubes andam tontos com os compromissos e com a magreza das tesourarias. Ninguém sabe o que fazer e todos temem o futuro. De raro em raro uma voz de protesto e de agonia ensaia uma reforma qualquer, mas é imediatamente abafada pelos sacerdotes do "status quo" aboletados nos cargos de mando. Antes o povo permanecia firme até o apito final que era recebido com um grito de entusiasmo. Hoje, o apito final é quase melancólico. Vejam a que ponto atingimos. Vejam a que situação chegou o nosso futebol, conduzido por essa gente que aí está. Temos a impressão de que ainda há gente nos estádios porque não há mesmo outra diversão, e o povo que não se diverte é um povo morto em vida. Pois bem: estão matando o futebol como já mataram o Carnaval! Anda tudo louco. Anda tudo atrapalhado. O futebol brasileiro vive à mercê das tricas políticas e dos conchavos. Enquanto não chegarmos a um ponto de entendimento mínimo, nada se conseguirá."