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  Não jogo no bicho
Ary Barroso - 2004-06-29

Felizmente, até hoje, não me tem seduzido a fartura lucrativa do chamado "jogo do bicho". Chego mesmo a ter raiva dessa praga nacional. Acho este jogo antiestético. Desvirtua a honestidade caseira das listas de armazém, confundindo burros e leões, elefantes e cavalos com os elevados problemas da madame e com a ambição ilusória da "Ervira" cozinheira. Não fica bem a nenhum espírito sentimental tentar lucros no jacaré, fazer da estupidez clássica do camelo a depositária de suas esperanças. Fica até desairoso saber que o desafogo financeiro de alguém de cultura, lhe veio do acerto com que, um dia, escolheu a vaca para sua protetora. Não tenho mesmo inclinação nenhuma por essa fórmula de "zoologia viciada", em cuja nomenclatura encontramos a cobra e o urso, o peru e o porco que no reino animal são, geralmente, expressões de estupidez. O Barão de Drummond, positivamente, não obedeceu, ao organizar a sua "lista", a nenhum principio de estética ou de superioridade.