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  Saúva!
Ary Barroso - 0000-00-00 - O Jornal - Scotch and Soda

Outro dia, eu e um amigo velho estivemos batendo um longo papo sôbre a vida do radio carioca. Fomos, de volta, ao tempo do "radio de galena". Lembrei-me, então, com saudade, do honesto ator Oscar Soares no seu camarim, nos intervalos das representações, com o fone grudado ao ouvido, procurando escutar os programas da "Radio Sociedade" ou da "Educadora". Já lá se vão vinte e cinco anos!… "Almirante" e o "Bando dos Tangaras", com Noel Rosa, Braguinha, Lamartine Babo e outros, Gessy Barbosa, Gastão Formenti, Vicente Celestino, Moacyr Bueno Rocha, Jorge Fernandes, Albenzio Perroni, Del Negri, etc., etc. Com o nascimento da "Radio Philips", começaram a surgir outros valores: Renato Murce, Silvio Caldas, Moreira da Silva, Aracy de Almeida, Luiz Barbosa, Petra de Barros, Carmen Miranda, Bando da Lua, etc., etc. Com a antiga "Mayrink Veiga", o radio entrou definitivamente nas cogitações do povo: César Ladeira, Carlos Galhardo, Aurora Miranda, Francisco Alves, Dorival Caymmi, Dircinha e Linda Batista, etc., etc.

Não estou querendo fazer história, conquanto me veja na circunstância de "recordar" para "concluir". Quero dizer que todos esses artistas, verdadeiros "fundadores" do radio no Brasil, com taras exceções, até hoje continuam figurando entre os "maiores" ou "melhores" de quantos concursos se fazem em nossa terra. Não encontraram substitutos, mas, simples "imitadores" que caminham à fôrça de uma propaganda organizada, mas, que nunca demonstraram possuir aquela "chama" exclusiva dos que fazem "arte" com espírito e vocação de "artista". Considero estes "fãs-clubes" a praga mais terrível do moderno e pobre rádio brasileiro! O "fã-clube" é um amontoado, uma verdadeira manada de negrinhas de todas as procedências, que têm a seguinte missão: distribuir faixas e mais faixas, flôres e mais flôres, e gritar, a plenos pulmões, nos auditórios: "é a maióoooooorr!, "é a maiórrrrr!". Resultado: começam a subir "estrêlas", enquanto vai caindo o próprio sentido altruístico e educacional do radio. Pergunto, e espero que me respondam com tôda a dignidade: dentro dêsses (últimos vinte anos (VINTE ANOS!), quais foram os artistas novos que apareceram sem trazer na sua "arte" a marca de Francisco Alves, Silvio Caldas? O nosso caminho do rádio é o da mediocridade alçada à grandiosidade por processos que os antigos não usaram e que por isso mesmo ai estão, quase todos de cabelos brancos, competindo ainda com "novos" e ganhando por vários corpos. Escorracem dos auditórios a sauva dos "fãs-clubes", porque senão a saúva matará o radio. Essa é que é a verdade!