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  Bahia é cantada como a terra da felicidade


 
 
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  Caixa de 20 CDs com mais de 300 gravações revela versatilidade de Ary Barroso
- 2014-01-29

RIO - A poucas semanas de se completarem os 50 anos de sua morte (no próximo dia 9), o mineiro de Ubá Ary Barroso ressurge, enfim por completo, com o lançamento, pela Novodisc/Museu da Imagem e do Som de São Paulo, da caixa “Brasil brasileiroâ€. Um trabalho que consumiu 12 anos do psicólogo, professor de biologia e pesquisador musical Omar Jubran, na busca pelas gravações originais de mais de 300 composições de Ary e em sua restauração digital. À obstinação (apenas cinco faixas não foram localizadas) e ao preciosismo de Jubran se deve esse extenso painel do que a música brasileira produziu de mais rico entre os anos de 1928 e 1962.
Compositor que trouxe de berço a linguagem da música interiorana (“No rancho fundoâ€, de 1931, até hoje faz parte do repertório das duplas de pop sertanejo), que incorporou as novidades do samba dos morros cariocas, que fez choro, valsa e foxtrote e que internacionalizou o país com “Aquarela do Brasil†e “Na baixa do sapateiroâ€, Ary se movimentou pelo rádio, pelo cinema, pelos concursos de carnaval e pelo teatro de revista. Sua visão de autor era orientada pelo popular, o que fez dele um mestre na análise dos relacionamentos românticos, abundantes como tema em suas músicas.
Com um repertório infalível, não é de se espantar que as maiores vozes do país tenham disputado a primazia de gravar as composições de Ary. Algumas das quais, nem tão conhecidas hoje, surgem como boas surpresas. Casos do samba “Vamos deixar de intimidadeâ€, (1929) na interpretação moderna para a época de Mário Reis , e da caipira “Como se deve amá†(1930) que mesmo na voz empostada, antiga, de Gastão Formenti, deixa escapar um tanto de malícia (“eu convido vancê/ pra nóis dois inté lá/ pra vancê aprendê/ como se deve amáâ€).
Nos sambas da fase inicial está a delícia de “Brasil brasileiroâ€: na sua profusão de bambas que bebem parati, que vão à Penha e que pedem proteção aos santos, mas não deixam de recorrer aos orixás. Dos malandros que passam os dias “zombando da vidaâ€. E da “Cabrocha inteligente†(1933) que “tem diploma de sabida e sabe temperar a vida com astúcia e falsidadeâ€. Carmen Miranda, Silvio Caldas e Francisco Alves são alguns dos intérpretes dessas preciosidades.
Algumas faixas ficam como testemunhas da ação do tempo, como as marchas “Dá nela†(de 1930, hoje certamente reprovada pela correção política) e “Negra também é genteâ€, de justa indignação em pleno ano de 1934, quando o racismo no Brasil era tudo, menos velado.
Uma das composições mais conhecidas de Ary, “Grau dezâ€, de 1935 (“rainha da cabeça aos pés / morena, eu te dou grau dezâ€), cantada por Francisco Alves e Lamartine Babo, abre uma série de marchinhas para beldades, que segue com “Garota colossalâ€, “Menina tostadinhaâ€, “Paulistinha querida†e “Carioquinha brejeira†— números que fariam bonito em qualquer carnaval, hoje ou em 2050. Outra fixação do compositor era a Bahia, que aparece em grande estilo em “No tabuleiro da baiana†(clássico na voz de Carmen Miranda), “Quando eu penso na Bahia†e “Na baixa do sapateiroâ€.
Outros Arys, menos óbvios, podem ser apreciados em “Brasil brasileiroâ€. A concordar com o título da caixa, tem o samba incrivelmente ufanista “Forasteiroâ€, de 1950 (“amigo, olha esta terra/ e me diga se existe outra igual...â€). Já o compositor dos choros instrumentais (e pianista de mão cheia), aparece em “Chorandoâ€, “Engarrafado†e “Sambando na gafieiraâ€. Grande melodista, Ary se destaca em “Pra machucar meu coraçãoâ€, samba de 1943, que seria relido pela bossa e pelo jazz por anos a fio. Pulando para 1952, o samba-canção de sucesso “Folha morta†(gravado por Dalva de Oliveira) prova como o compositor não teve declínio.