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Ary Barroso - 2004-06-29

Ubá, onde nasci, era uma cidade boêmia. Contra a opinião e a resistência de minha velha avó, uns poucos amigos e eu éramos os sacerdotes dessa religião que nos ensina a humildade, o querer bem, a poesia, o riso franco, as coisas aproveitáveis da vida, enfim. Éramos três. Inseparáveis. O Quintiliano Barbosa, Mário Azevedo e eu. O solteiro era eu. Fazíamos as nossas farras noturnas tomando "Teotônia" ou, quando muito um "trançado" (pinga com vermouth francês). Quintiliano era o "cronista social". Sem afetação, sem terminologia empolada, descia a crítica à vida de Ubá que nos arrancavam gostosas gargalhadas. Mário era o incorrigível carnavalesco. Gostava de se fantasiar de dominó e máscara. Durante o dia cada um estava nas suas funções oficiais: Quintiliano, escrivão de coletoria; Mário, o próprio coletor. Ali pelas quatro da tarde, no bar do Messias, tomávamos as "penúltimas". Às vezes eu estava na Tipografia e Papelaria Siqueira, o Quintiliano passava, com aquela barriga redondíssima, e gritava, da rua: "Ô Ary, vamos ao snaps-drink?. O Quintiliano no "trançado". Mário e eu, Teotônia misturada com Brahma-Porter. Quando não tinha gelo, pedíamos ao Messias que "enterrasse" meia dúzia de garrafas no fundo da casa. Sim senhores! Na hora, a cerveja estava geladinha. Tomamos pileques ciclópicos. O Mário gostava de me ouvir fazer discursos. Ele dava o tema. Eu discursava. O Quintiliano dava apartes. Sendo muito mais jovem que os dois, todo mundo, na cidade estranhava minha preferência pelos dois. O natural seria que eu convivesse com a rapaziada. Não! Eram o Mário e o Quintiliano. Este tocava trombone na banda de música mais importante da zona: "Sociedade Musical 22 de Maio". Era de ver-se a sua imponência! Graças a Deus, o Quintiliano ainda está vivo, em Leopoldina. Outro dia morreu o Mário. Morreu uma quadra da vida de Ubá. Morreu o homem que se sacrificava para dar carnaval ao povo. Morreu o presidente do "Ubaenses Carnavalescos". Morreu o último boêmio bom, inteligente, simples. Morreu um homem que representou na minha vida papel importante. Adeus meu caro Mário. Irei procurar o Quintiliano para tomarmos, juntos, com uma cadeira vazia à nossa mesa, o "penúltimo"...