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Única página da autobiografia (s/ título)
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  Única página da autobiografia (s/ título)
Ary Barroso - 0000-00-00

No vou fazer História. Por urn motivo muito simples: não sou \"historiador\". Vou contar umas coisas que a uns podem parecer interessantes e que a outros, enfadonhas.Também não irei obedecer a nenhum rigor cronológico. Pode acontecer que uma coisa venha a ser colocada muitas páginas lá na frente, quando deveria estar cá atrás. Não faz mal. Todas aconteceram no passado, e, pois, confundem-se no tempo e no espaço. Também não há nenhum sistema hierárquico influindo no desfile dos acontecimentos. Para mim foram todos importantes, já que se constituiram em páginas da minha vida. De algumas delas poderei figurar como \"personagem\"; de outras, simples espectador. Todas aconteceram. Todas são reais. A maioria se desenrolou quase no mesmo cenário. A outra parte, menor, em cenários diversos, chegando mesmo alguma coisa a acontecer além fronteiras.

Procurarei tratar os meus hóspedes, nestas páginas, com o mais requintado respeito. Alguns já morreram; outros, ainda estão vivos. Dos que se foram, estas páginas recolherão suas mais lindas, mais eloquentes, mais comovedoras atuações na vida. Aos que estão vivos, que me ajudem a dizer a verdade.

Por coincidência, ao começar a bater este prólogo à máquina, sobem até meus ouvidos, lá de perto da praia, de alguma apartamento certamente, as vozes de uma piano regularmente tocado. Música de Beethoven. Acentuei esse detalhe porque o piano irá ser quase uma constante através das páginas deste livro. Não o piano do ou da pianista que estou ouvindo, como fundo, ao bater das teclas desta Olivetti, mas, o meu, modesto, claudicante, duro e sem virtuosismo de espécie nenhuma. Um piano que, - coitado - com todos esses defeitos, fez tudo o que lhe foi possível para me ajudar. A despeito da raiva que eu tinha dele... dele e da professora. Esta, - pobrezinha - suou para me ensinar como não confundir teclas brancas com pretas, e que os nossos dedos também são numerados. Vejam ali adiante como a coisa me passou.

Se não encontrarem grandeza no que escrevo e narro, procurem que acharão, na alma das histórias que conto, toda a minh’alma que acompanhou meu corpo na terrível escalada que ainda não terminou. Terminará - quem sabe? - quando e onde e por que?

São onze horas da noite. Seis de outubro de mil e novecentos e sessenta e um. Só o tal piano lá do apartamento canta; o resto, silêncio. Ou melhor: quase silêncio: há uma brisa indiscreta fazendo balançar, com um ruido muito próprio, as cortinas da janela. Sem falar no \"pla-pla... plapla... pla\" da máquina de escrever. É óbvio.

Meu amigo (ou amiga) pode ir ler a primeira história. Está logo ali.