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  De Ary | Sobre Ary

Ary Barroso em Hollywood
Gilberto Souto

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Gilberto Souto - 0000-00-00

Sabemos que, em determinada época, para ganhar a vida, Ary foi pianista de cinema, executando valsas sentimentais nas passagens românticas ou marchas e dobrados nas cenas de correrias de "cowboy", e bem imagino que jamais tivasse sonhado, na longínqua década dos vinte, que, um dia, seria chamado a Hollywood como compositor famoso, para escrever duas partituras: "Brazil" (1943), na Republic, e "Three little Girls in Blue", na 20th CenturyPox (1944-45).

Ao contrário do que se tem publicado, ele não musicou "Alô, Amigos" (Saludos, Amigos) e "Você já foi à Bahia?" (The Three Caballeros), de Walt Disney; apenas algumas composições suas foram utilizadas nesses dois filmes.

Nesse tempo, eu já colaborava no estúdio de Disney, a par de minha tarefa de repórter de "Cinearte", assim, vi, dia-a-dia, nascer o episódio brasileiro de "Alô, Amigos". Aloísio Oliveira cantou a música de Ary em português, e essa mesma gravação foi ouvida em todas as partes do mundo, já que Walt não permitiu que fosse ela dublada em outros idiomas. De repente, a música de Ary Barroso ficou popular com uma difusão como jamais poderia ter obtido, mesmo que tivesse o mérito de logo agradar, em qualquer canto da terra onde fosse executada. "Aquarela do Brasil" espalhou-se pelo mundo inteiro, e com o nome de "Brazil" (com Z, como o escreve a língua inglesa) foi gravada por nomes famosos, entre estes Bing Crosby. Houve centenas de discos nos Estados Unidos e no estrangeiro: era a consagração universal para uma das mais belas músicas que nossa terra já ofereceu ao mundo...

"Alô, Amigos" custou pouco dinheiro e deu lucro, mesmo que o Departamento de Estado tivesse assumido o compromisso de garantir o seu custo, caso viesse a fracassar. Disney continuou o plano de filmes com ambiente sul-americano, e assim surgiu "Você já foi à Bahia?" (The Three Caballeros), novamente com o Pato Donald, José Carioca, o biruta Arecuá, e em novo personagem, o galo mexicano Panchito.

Novas músicas foram escolhidas, entre elas "Os Quindins de Iaiá", que seria cantada por Aurora Miranda, irmã de Carmen, excelente cantora, além de dona de grande doçura e de imensa graça, bem a calhar para o papel de uma brejeira baiana. Antes deste número, haveria um prólogo de apresentação da Bahia, Salvador, e a música, a princípio escolhida para este trecho, foi "Carinhoso", de Pixinguinha. Aurora começou a gravar a canção, um esplêndido trabalho de orquestração e execução realizado pelos músicos de Disney, mas, depois de conferências, chegaram os diretores do filme, com aprovação de Disney, à conclusão de que "Na Baixa do Sapateiro", de Barroso, se prestaria melhor ao que desejavam apresentar na tela.

"Na Baixa do Sapateiro" foi cantado em português por Nestor Amaral (falecido em Hollywood) na versão brasileira e espanhola, e, em inglês, para os EUA e o resto do mundo. A letra de "Bahia" foi escrita por Ray Gilbert, que, mais tarde, entusiasmado com "Terra Sêca", fêz para esta composição lindos versos. Por essa época, em 1944, Ary chegava a Hollywood. Sua visita ao estúdio de Disney foi uma festa para todos nós, e ele, comovido, assistiu a "Você já foi à Bahia?". Sentiu-se feliz, imensamente feliz. Eu e Aloísio já estávamos tratando da versão brasileira, e acabamos convencendo Ary a narrar a história do "Pinguim Friorento", um dos trechos do filme. Ele o fêz com grande espírito, com aquele seu modo de falar, pessoal, inconfundível, e que era tão bem imitado por Carmen Miranda. E como Ary seria quando Carmen lhe falava daquele jeito!

Chegara a Hollywood para musicar um filme da Republic, "Brazil", que um velhinho simpático, Robert North, ia produzir e onde deveriam aparecer Virginia Bruce, Tito Guizar, Edward Everett Horton, Bob Livingstone, Aurora Miranda e outros.

Para Ary era o reconhecimento de seu imenso talento. Era Hollywood curvando-se ante um músico nosso - ela, onde trabalhavam valores como Cole Porter, Jimmy McHugh, Irving Berlin...

Com a consagração de "Aquarela do Brasil", nos Estados Unidos, depois do sucesso de "Alô, Amigos", de Disney, e com a sua gravação por orquestras e cantores de fama, era natural que o valor de Ary Barroso viesse a ser reconhecido, tanto mais que havia interesse da parte dos estúdios pelas coisas latino-americanas. Hollywood sempre pôde gabar-se da excelência de seus departamentos de música, onde, então, encontrávamos homens de alto gabarito, profundos conhecedores de seu metier, o que nem sempre sucede em outros ramos da cinematografia.

A lista destes músicos é grande e contém as maiores autoridades do mundo musical, assim não era de admirar tivesse Ary Barroso despertado a atenção de Hollywood, pois as suas obras poderiam ser de imediato reconhecidas como de compositor inspirado. Não quero dizer que não houvesse, no Brasil, outros de talento, mas, a par de seu valor, Ary teve a sorte de que uma das mais belas músicas jamais escritas, a sua "Aquarela do Brasil", tivesse chegado ao cinema. As portas de Hollywood para ele se abriam, a começar pelo estúdio da Republic que, mesmo modesto, lhe ofereceu bom dinheiro para que escrevesse o "score" de "Brazil".

Não me recordo exatamente de todas as suas músicas para o filme que Robert North, produtor associado, estava encarregado de realizar para a Republic, e que seria dirigido por Joseph Santley. Este tinha sido homem de teatro, na Broadway, de revistas e comédias musicadas, daí poder sentir toda a beleza da partitura do nosso patrício. Lembro-me, porém, que nela sobressaíam o samba "Rio de Janeiro", tema do filme, um delicioso número, cantado e dançado por Aurora Miranda, e um grupo de rapazes e moças; o bailado com motivo do nosso Café. Os números de danças tinham coreografia de Billy Daniels, emprestado pela Paramount à Republic, e que, antes, havia trabalhado no estúdio de Disney, na mesma capacidade, no filme "Você já foi à Bahia?", assistido por Aloísio, nascendo dessa colaboração, além da graça e bossa que a um deles Aurora Miranda emprestou, autenticidade de ritmos e passos. Billy Daniels (já falecido) fôra um grande dançarino dos teatros da Broadway, coreógrafo de grande talento, e, assim, fazia-nos bem ouvi-lo comentar, por exemplo, a beleza da música que Ary tinha composto para o número do Café. E era realmente uma das mais belas peças do seu repertório, pouco tocada e um tanto esquecida, mas que bem poderia ser revivida, em qualquer "show" que se pretenda fazer sobre a sua música.

Ary quase não falava inglês e isso o irritava bastante, pois sempre com anedotas para contar, eternamente em ebulição, irrequieto, observador, crítico ferino de modos e costumes, doido por um bate-papo à mesa de um bar, ficava tolhido em sua exuberância, quando estava em roda de arnericanos. Bastava, porém, que houvesse brasileiro por perto, para que arregalasse os olhos, sorrisse, e se sentisse feliz - e que major felicidade para ele, como para todos nós, em exílio voluntário, do que a casa de Carmen Miranda?

Era como um oásis num deserto de cacto e "tumbleweeds", e que melhor marcava a ausência do verde brasileiro, de palmeiras e cipós de florestas e cascatas, de rêdes e jangadas, do mar espumante, de requebro de mulata em desfile de escola de samba, de tamborim e de cuica - de tudo que nos poderia falar de um Brasil distante.

Assim, em casa de Carmen, Ary estava no Brasil, pela acolhida de sua família, pela roda de brasileiros, pela comida da terra, e pela música que subia pelos ares como um eco de saudade pelo que tinha ficado para trás.

Quando chegou a Hollywood, pela primeira vez, andava magoado com Carmen , em uma de suas fases de desconfiança, julgando-se relegado, esquecido - mas bastou que ela lhe abrisse os braços e dissesse: "Venha de là!", imitasse a sua fala, logo de saída, soltasse o palavreado à sua moda, e Ary ficou desarmado! Foram dias de alegria para todos nós, e para ele, principalmente, na companhia de Gabriel Richald, marido de Aurora, Aloísio, Vadico, Nestor Amaral, Zé Carioca, os rapazes do Bando da Lua e todos mais que por lá andavam e trabalhavam.

Nessa época, Ary decidira colocar dentadura completa, por isso indiquei-lhe o meu dentista. Foi um episódio dos mais divertidos - e Gabriel deve bem lembrar-se das situações gozadas que Ary provocava - porque ele tinha pavor de boticão e de broca, além de que pudesse, porventura, vir a sibilar demais, jà que era também "speaker" de rádio.

"Você tern certeza de que tudo vai sair direito? O homem é mesmo bom? Vai doer? E os esses? Vou sibilar demais? Não, não faço nada! Enquanto eu ficar exaltado, a dentadura pode cair?"

E continuava: "Isssto é uma coisa perigosa", arrastando nos esses. Tirou os dentes. Sofreu, e que broncas que deu no apartamento do Hotel Franklin, em que morava, a curta distância de minha casa. Reclamava que ficara com boca de velho -. sem um dente! Mas, depois, foram sorrisos e alegria. O trabalho saira perfeito. Depois da crise, voltou a ser o companheiro divertido de sempre, mesmo quando resmungava e maldizia a vida e o mundo, para, logo depois, assobiar alguma coisa, se a inspiração vinha ao seu encontro, perdendo-se no mundo de sua música.

Recordo muitos momentos, passados com ele, quando percebi o seu amor ao trabalho, o cuidado em apresentar somente o que de melhor pudesse produzir, a sua honestidade profissional. Também me lembo de outros: nossa visita a um dos palcos da 20th Century-Fox, onde trabaIhava uma nova estrelinha, Mary Anderson. Encantadora e simpática, ela ficou interessada em palestrar com o músico de "Brazil". Ary, por meu intermédio, fêz-lhe varias perguntas: seu trabalho, treino, etc. De rspente, me diz:

"Pergunta se ela pode chorar, assim scm mais nem menos, se o diretor mandar".

Mary sorriu, olhou para ele, concentrou-se e - acreditem! - as lágrimas começaram a rolar! Ary ficou mudo de espanto: depois, deu uma rodada, e, sorrindo, disse:

"Fantástico!"

Custava-lhe acreditar que a moça pudesse, de um momento para o outro, chorar de verdade!

Às vézes, exaltava tudo o que via nos Estados Unidos, mesmo que, naquela época, andássemos com racionamento de gasolina, carne, manteiga, açúcar, café, cigarros e calçados. Mas, de repente, ficava irritado com certas bobagens de lá, usos e costumes e manias. Mas, costumava dizer: "Isto funciona!", o que ontem, como hoje, ainda é uma verdade.

Ary me confidenciava: "são os reis do melodia", referindo-se aos compositores norteamericanos, por isso bem imagino como ficava sensibilizado corn as atenções que lhe devotavam grandes nomes de estúdios, orquestradores, regentes, ao discutirem paisagens de suas composições, suas melodias, esta ou aquela frase musical.

A sua presença em Hollywood não foi apenas motivada pela necessidade de agradar brasileiros e latino-americanos , colocando suas músicas em filmes, mas por ser ele, como o era, um músico realmente inspirado.

Recordando a presença de Ary na noite do "Oscar", em princípios de 1944, no Chinese Theatre, quando Paul Lukas foi premiado por "Horas de Tormenta", Watch on the Rhine. A 20th Century-Fox, em esforço pessoal para agradar a Ary, conseguiu-lhe um convite para a festa da Academia, para que pudesse assistir ao desfile de astros e estrelas em acontecimento tão aguardado, quando corações se partem, ao não ganharem a cobiçada estatueta, enquanto outros se rejubilam com o precioso troféu.

Estávamos sentados, à frente, perto do palco, e a passagem nos separava da fila em que se achava Humphrey Bogart, candidato ao "Oscar" por seu desempenho em Casablanca.

Pouco antes do nome de Lukas haver sido anunciado como Vencedor, eu e Ary já estávamos de olhos pregados em Bogart, esperando pela sua reação; vitória ou desapontamento?

E, assim, vimos que empalidecia, diante do colega vitorioso; era o "Oscar" que lhe escapava daquela vez, mas que seria seu, anos mais tarde, por Uma Aventura na África. Ary parecia mais emocionado do que o famoso homem mau da tela - recordo vagamente haver-me dito que, se fosse com ele, jamais compareceria à, festa. A emoção e o suspense eram de arrasar qualquer mortal!

A história, que Ary deveria musicar para a Fox, já havia sido feita, anteriormente, duas vezes (como o foi, depois, mais duas); da primeira, simples comédia, chamada "Precisam-se Três Maridos" (Thres Blind Mice), com Loretta Young, Marjorie Weaver e Pauline Moore; da segunda, já um musical, com Betty Grable, Carole Landis e Cobina Wright, Jr., com o nome de "Sob o luar da Miami" (Moon Over Miami); em 1946, surgiu como "Precisam-se Maridos" (Three Little Girls in Blue) com Vivian Blame, June Haver e Celeste Hohn exatamente história e título que haviam sido escolhidos para o filme musicado de Barroso - e, depois, em Cinemascópio, batizado de "Como Agarrar um Milionário", com Betty Grable, Lauren Bacall e Marylin Monroe. A história, como vemos, tem mesmo sete fôlegos.

Sucede que o projeto, então chamado "Threes Little Girls in Blue", em 1944, foi arquivado, mesmo que a 20th Century-Fox tivesse pago a Ary Barroso milhares de dólares pela partitura, uma das mais belas que já ouvi e que, hoje, dorme nas prateleiras do estúdio. A versão de que tratamos havia sido adaptada ao ambiente brasileiro, com seqüências no Rio, no Hotel Copacabana Palace, na praia e, mais tarde, numa fazenda do interior. Tenho em mãos o primitivo roteiro, escrito por Robert Ellis e Helen Logan (se bem que Anita Loos, a seguir, nele tivesse colaborado) e cujo elenco provisório seria o seguinte: Carmen Miranda, June Haver,
Jeanne Cram, Vera Ellen, Dick Haymes, Anthony Quinn, Charlie Smith e J. Caroll Nash.

Anita, com quem almocei em companhia de Carmen, pois a famosa escritora e roteirista desejava sentir a exuberância de nossa estrela, sua maneira de falar e seus modos pessoais, fora encarregada de injetar um pouco de malícia nos diálogos, já que o tema do filme - três garotas que tentam fisgar maridos milionários - estava dentro de sua seara. Na década de 20, escrevera o livro (mais tarde, filme silencioso e, depois, musical na Broadway) "Os Cavalheiros Preferem as Louras". Tive, nesse dia, a sorte de conhecê-la e recordar-lhe a série brilhante de deliciosas comédias que, juntamente com seu marido, John Emmerson, havia realizado para a Triangle, com Douglas Fairbanks (pal) no papel principal. Está, aqui ao meu lado o roteiro do filme e uma lista dos números que Ary deveria musicar: seriam 6, entre os quais When a Yayá Meets a Yoyô (Quando uma Yayá encontra um Yoyô), "Assobia um Samba", o tema do filme. "Rio", uma canção de amor para um dos casais da história, e um torch song (canção-lamento) para June Haver; um bailado para Vera Ellen, e "Thre's Nothing With me Than Love Can't Cure".

Até hoje, não sei, com segurança, porque o filme não chegou a ser feito, já que possuía elementos de sucesso, principalmente a música de Ary. Este, todos os dias, sentava-se ao piano, em seu bangalô, situado num recanto do estúdio, em lugar calmo e longe de barulho, a compor a partitura, de acordo com as situações que iam sendo escritas, com os números de dança ou cantados que lhe eram indicados, de comum acordo com Mack Gordon, encarregado de escrever a letra das canções.

Mark era famoso; e em seus tempos da Paramount fora parceiro de Harry Revel, grande músico. Era um homem imensamente gordo, sempre de charuto na boca, soltando fumaça como se fosse uma chaminé. O contraste entre ele e Ary era dos mais pitorescos!

Eu fora contratado pelo estúdio como assessor técnico do filme, para escrever diálogos (o pouco que Carmen falaria em português) e também para intérprete de Ary. Assim, enquanto o saudoso compositor, sentado ao piano, ia escrevendo sua música, eu, em sala pegada, seguia-lhe a inspiração e ouvia nascer sambas e canções! Foi esse, confesso, um dos grandes privilégios de minha vida, talvez somente compartilhado pela familia do Ary que, em casa, poderia acompanhar a criação do novas melodias.

Músicos do estúdio, assim como Mack Gordon, ficavam admirados de Ary saber música, pois muitos dos mais famosos compositores norteamericanos (Irving Berlin, por exemplo) batem as suas maravilhosas melodias com um dedo no teclado, sem conheceram uma nota. Ary apresentava o seu trabalho, escrito na pauta, em lotra clara e precisa, e - espanto também para muitos - executava-o ao piano, com aquele seu jeito todo ospecial de pianista com tarimba de muitos anos!

Vadico (Oswaldo Gaglione) entrava sempre em confabulações com Ary, e este lhe dizia:

"Aqui, V. mete aquele "molho"; faz isto on aquilo", pois o falecido músico e também compositor estava no estúdio para fazer o acompanhamanto das criações de Ary, se bem que as orquestrações, mais tarde, devessem ficar a cargo de Herbert Spencer, e de Edward Powell, para os corais. Mas nem tudo eram rosas. Mack Gordon, deitado num sofá, pedia a Ary para executar um novo número, sempre de charuto na boca, a espalhar cinzas por todos os lados. Com os imensos pés, marcava e compasso, o que horrorizava Ary, pois o gordo letrista dava a mesma batida para "blues", "torch songs", sambas ou choros! Ary terminava de tocar, Mack levantava-se, com esforço, e dizia:

- "Ary - pronunciava Éri - beautiful, but too long, (Que beleza! Mas muito comprido)!"

Ary danava-se. Ficava tolhido porque os compositores do estúdio estavam acostumados à bitola: 32 compassos, nada mais. Tudo medido, tudo certinho!

Ary era tão fabuloso que muitos de seus sambas poderiam ser separados em dois ou três números diferentes, e todos belos, inspirados, com melodias admiráveis. Herbert Spencer, ao ouvir nova composição, costumava dizer-me que ali jamais estivera alguém tão talentoso, em tantos e diversos campos. Não sei porque o estúdio jamais usou a partitura e o "torch song" que ele escreveu; sem ser música tipicamente brasileira, é uma das mais belas páginas de sua carreira, ou, para falarmos a verdade, da de qualquer compositor, norte-americano ou não. Seria uma lástima que essa música ficasse para sempre esquecida num departamento do estúdio. É preciso que seja trazida para o público, pois assim poderá o mundo conhecer uma partitura viva, deliciosa e deveras inspirada. É um legado que Ary nos deixou, e que, de maneira alguma, deve ficar mudo, mas subir pelos ares para que nos alegre a todos, e para que possamos orgulhar-nos como brasileiros - sabendo que, em Hollywood, onde os maiores nomes da Música popular mundial viviam e trabathavam, um filho do Brasil, cheio de talento, a eles se juntou, elevando bem alto o nome de sua terra e de sua gente!