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O Ary de sempre Antônio Maria - 0000-00-00
Quando se vai escrever sobre Ary Barroso, é necessário tomar certas precauções para que, ante o seu magnetismo pessoal, não se cometa a facilidade do elogio generalizado.
Ary, um homem cheio de erros e acertos, que, embora tenha feito coisas lindas (mais das vezes), fez coisas sem beleza, também. Não se lhe negue, todavia, uma grande e rara personalidade, capaz de anular quem à sua volta estiver, fazendo coro. Viveu de uma aguda sensibilidade, que se derramou em suas fabulosas melodias, conhecidas aqui como na China.
Ninguém, até hoje, fez, em música e pela música do Brasil, o que fez esse mineiro inquieto, vagotônico até a medula, trabalhador incansável do seu êxito em vida e da imortalidade da sua obra. Sua passagem à posteridade foi certa e merecida. Se, daqui a cinqüenta anos ninguém por aqui se lembrar mais de sua "Aquarela", um escocês será capaz de tocar em gaita-de-fole a grande melodia da segunda parte.
Numa entrevista feita em 1946 para a "Revista do Rádio", dizia-me,
após tiras os óculos e esfregar as mãos no rosto (o rosto de pele mais seca que existiu), que estava cheio de projetos. Que esperava, ansiosamente, por um busto em Ubá, uma medalha de "Honra ao Mérito" e uma volta gloriosa a Câmara Municipal. Queixava-se de que não dormia, e que em sua cabeça rodavam tratores e chocavam-se automóveis. Pensava no filho, Flávio Rubens, que fora caçar e preocupava-se. Desta feita fiz uma série de perguntas, e, em sete respostas, Ary liquidava o assunto música.
No futebol brasileiro, ninguém poderá esquecer sua gaitinha, que tocava quando havia gol. Deixou o microfone porque quis, e ainda não foi devidamerite substituÃdo. Nunca foi empolado e sabia falar a mesma linguagem dos ouvintes.
Reconhecia que a pessoa que mais autoridade exercia sobre ele era Yvonne, sua esposa.
Gostaria de viver até quando não flcasse ridÃculo, e foi o compositor
nacional mais divulgado no mundo; a sua caracterÃstica marcante era o fato de, ao ser entrevistado, empolgar-se tanto com o assunto, que, após verificar que se excedera na declarações, saÃa-se com esta ressalva:
- "Se publicar, eu desmentirei!"
Este senhor foi exatamente o Ary Barroso de sempre.
Antônio Maria
(Jornalista e compositor)
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