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O meu amigo inesquecÃvel Paulo Roberto - 0000-00-00
Bem... (me disseram) você tem ai esse papel. Escreva sobre o seu amigo Ary Barroso.
Bem... (respondo eu) isso é como se me pedissem: sente-se e escreva sobre o Brasil!
Santo Deus! Por onde começar?
Há terras e homens sobre os quais a dificuldade é encontrar assunto para comentá-los. Outras, entretanto (homens e Pátrias), são demasiado grandes para caber em poucas palavras, por mais que se restrinja o ângulo sob o qual tentamos descrevé-los, usando os melhores e mais fortes adjetivos do dicionário.
Ary amigo: - Foi o melhor companheiro de trabalho que o destino me deu. Brigávamos furiosamente de cinco em cinco minutos e logo fraternizávamos em grandes gargalhadas boêmias. Estávamos rindo de nós mesmos e de nossas próprias estocadas e agressões. Foi mais que meu amigo, meu irmão.
De alma, sou tio de Mariúza e de Flávio.
Ary no esporte: - Revolucionou os comentários e transmissões de futebol. Criou o pitoresco para substituir o dramático na descrição dos lances e impôs o tipo (até ai inaceitável) do repórter torcedor, que se revela sinceramente torcedor. Quem transmitia as pelejas do Flamengo era, claro e curiosamente, o rubro-negro Ary Barroso. Depois inventou a gaitinha para assinalar os gols, coisa que além de gritantemente prática, marcava, de longe, sua presença ao microfone. Ficou famosa e consagrada - "a gaitinha do Ary!"
Ary no rádio: - Criou o primeiro programa de calouros do Brasil. Inventou o gongo. Foi o admirável artista de "seu Manoel, seu Joaquim e a Balbina" (dois portuguêses, o patrão e o empregado, em luta pela mulata).
Novamente caracterizou o tipo que fazia - seu Joaquim - o caixeiro: - "Pronto, patrão!" com o telecoteco dos tamancos.
Comigo e o gaucho Hamilcar de Garcia, Ary pos no ar a primeira
novela em série do Radio Brasileiro ("O Homem Misterioso"). A antiga Radio Cruzeiro do Sul - miúda e modesta - projetou-se na vanguarda da bem-querença popular, apoiada na personalidada, na voz e no talento de Ary Barroso ("Coisas que incomodam na Cidade Maravilhosa"), "Esportes na Batata", "Seu Manoel, seu Joaquim e a Balbina", "Hora H" etc.
Foi, no Rádio, a maior sensação e o mais vivo e inteligente renovador.
Ary Barroso na música: - Bem. Aqui não digo nada. Deixo que falem por mim a nossa Minas Gerais que ele amou, a Bahia sonorizada pelo seu talento, e o Brasil, projetado em todo o mundo pela grandeza de sua maravilhosa inspiração.
Ary coube inteirinho e vive ainda no meu coração. Mas (ai de mim) transborda para muito e muito além dos limites de minhas palavras.
(Paulo Roberto, produtor radiofônico) |
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